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  • Foto do escritorJonas Muro Gomes

Um "Rato" Brasileiro na Transat dos Franceses (parte 2)

Mini n°34, que depois foi do Rato, navegando


Continuação da epopéia do Gustavo "Rato" Pacheco na Mini Transat 2003!


Voltamos ao porto de Douarnenez, o mesmo da largada da Mini-Fastnet, eu estava muito desanimado, com nossa performance, com o barco, e sozinho. Estava ali começando um depressão pessoal, que se estendeu até o Brasil... Era muito esquisito, pois eu estava ali no meu melhor momento da vela, realizando o que eu havia sonhado por muitos anos, com um barco e velejando ! Mas mesmo assim eu estava deprê.


Bom, dito isso, eu tinha de dar continuidade a minha campanha, e assim fiz a duras custas, morando no barco, encostado de favor no píer do Museu Naval da cidade, comendo em todas as refeições comida liofilizada que eu havia comprado em conjunto da Alemanha com outros velejadores para baratear a compra, e sem dinheiro para tomar cerveja e relaxar.


Continuei trabalhando no barco, executando pequenas melhorias. Graças a Deus eu não tinha mais que me preocupar com as questões de medição do barco, ele havia sido aprovado. Era só eu não modificar itens estruturais e de performance ( o que o Rob Holzacker fez) que o barco estaria apto para a MiniTransat, então me concentrei em arrumar o que eu havia detectado não estava bom. Fui trabalhando até ser obrigado a tirar o barco do píer do Museu, e eu fui então velejando 180 milha SE para Port Bourgenay, o porto da largada da próxima regata, a Transgascogne.


Nesse momento eu já havia feito 1000 milhas solo, e 500 milhas em dupla (Mini-Fastnet), só me faltavam as outras 500 milhas solo em regata que eu estaria definitivamente apto para a MiniTransat na questão das milhas a serem cumpridas. Eu tinha de terminar a regata TransGascogne... A Classe Mini tem uma coisa bem legal para incentivar e ajudar os ministas em campanha, ela faz o calendário de regatas de tal forma, que entre uma regata e outra tem o tempo certo para os barcos ficarem de graça no porto da regata após terminada a regata (uns 10 dias +/-) e os barcos ficarem de graça uns 10 dias no porto antes da próxima regata.


Assim estava eu lá em Bourgenay aproveitando estes dez dias para continuar arrumando meu barco. Eu não gostava daquele porto, pois era uma marina nova, e não tinha alma, não tinha ainda movimento. Foi imposta ali mas demoraria um tempo para ter calor humano, gente em volta.


Me lembro bem de uma passagem ao mesmo tempo triste e interessante: Eu estava no pontoon da marina agachado, com as ferramentas e mexendo em alguma coisa do barco, quando eu vejo vindo, o fera americano campeão olímpico de Flying Dutchman que estava também em campanha para a Mini (não me lembro o nome). Bom eu continuei fazendo o que eu estava fazendo, mas pude escutar ele de passagem comentando com seu camarada em inglês: “I don't know how a sailor could want to do a MiniTransat race on a boat like this...” virei a cara para baixo com vergonha de meu barco, e ele continuou andando, nem notou minha presença ali agachada. O meu barco era de 1985, de madeira, pouca boca, defasado. Eu tinha o barco mais antigo e mais barato de toda a flotilha. Mas sabe o que aconteceu ?? Acabou que eu cheguei na frente dele na MiniTransat, pois ele quebrou o mastro já na costa do Brasil, quando ele estava liderando a perna e ia provavelmente vencer a Mini e não completou a regata... O importante é terminar...



A regata Trans-Gascogne larga em Port Bourgenay, atravessa o Golfo de Gascogne até Gijon na Espanha onde os barco ficam uns 3 dias, e parte de volta para Port Bourgenay. Eu tinha de terminar essa regata de 500 milhas solo. Assim fiz. Como os ventos não foram fortes nessa regata, as deficiências de estabilidade do barco não atrapalharam a performance e eu tive a minha melhor colocação das três regatas que participei em toda a campanha, fiquei em 21o lugar.


Ao terminar essa regata, fiquei no porto os dez dias concedidos de graça para os velejadores, novamente desanimado, com pouco dinheiro, morando no barco, comendo aquela comida e arrumando algumas coisas. Eu precisava enrolar o máximo para então “me mudar” para La Rochelle, o porto de largada da Regata MiniTransat.


Uma vez em La Rochelle deixei o barco sozinho, e fui encontrar a Marina, minha mulher na Espanha, pois ela foi para lá trabalhar e era a oportunidade de revê-la antes de eu atravessar o Atlantico. Eu já estava a uns 3 meses sozinho na França, O tempo começou a afunilar, e em La Rochelle estavam ali todos os barco que conseguiram cumprir as exigências de milhas e medição para a regata, e uns poucos esperançosos na fila de espera caso alguém desistisse de ultima hora.


Começava então a fase de exigências de equipamentos e burocráticas. Não sei como passei no teste de potência de transmissão do VHF, pois meu rádio era bem velhinho... Os medidores encrencaram com a cor do numeral de minha stormjib, uma vela que me foi presenteada, e que eu aproveitei um algarismo preto existente do numeral antigo da vela, comprei um algarismo azul e fiz o numero 34. O cara não aceitou, e tive de comprar novamente um numero preto para dar o match...


Fizemos em conjunto xerox das cartas de papel exigidas, comprei as publicações que faltavam, fiz o saco de abandono, tive de fazer um seguro pessoal, e para isso entrei na Federaçao Francesa de Vela. Ao se filiar, a pessoa ganhava automaticamente um seguro (ao menos nisso os franceses facilitaram !), juntei todos os instrumentos de navegação em papel, as bandeiras, os fogos, preparei a bóia circular e seus apetrechos, mostrar os carimbos de medição das velas.


Foi uma infinidade de quesitos que eu tive de aprontar, fora os que eu já havia aprontado ! Mas como eu havia lido e relido as regras da Classe, ao menos eu sabia o que eu teria de ter para a vistoria final. Ufa, eu estava quase lá!


Como a regata aquele ano foi para o Brasil, chegando em Salvador, algumas pessoas do Centro Nautico da Bahia foram para La Rochelle. O Zacarias, que era o top desse pessoal percebeu minha luta, e me ofereceu um hotel por uns dias, e compareceu com algum dinheiro, o que me ajudou a comprar um novo pau de spinnaker e coisas assim. Foi um bom contato com brasileiros depois de um tempo, fora o meu amigo Ivan Cherques que mora lá e também me ajudou muito.

Enquanto o Jaws, o Neozelandes que era o skipper na Bahia do catamaran Adrenalina Pura, e trabalhávamos junto na Bahia e que também estava lá para participar da Mini subia o barco em seco para lixar e preparar o fundo, eu tinha de mergulhar e limpar o fundo no peito. Eu não tinha mais dinheiro para nada... Os croissants eram artigo de luxo...

Antes da regata MiniTransat, havia ainda uma outra regata de 50 milhas a ser feita, um preâmbulo como eles se referem a essa regata. Ela foi de La Rochelle até Royan, um porto na entrada do Rio Bordeaux. Para essa regata, chamei aquele meu amigo francês que me ajudou a ver o barco na época da compra, o Stephan. Foi uma regata tranquila, pois ela não valia para qualificação, valia mais para treino e divulgação. Nem me lembro como ficamos, mas terminamos a regata, e eu voltei sozinho velejando para La Rochelle. A largada da MiniTransat seria a logo em seguida.

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